Como a regulação do Banco Central está redesenhando o mercado de ativos virtuais no Brasil

calendar_month 26/11/2025

A regulação dos ativos virtuais entrou em um novo capítulo no Brasil. As resoluções 519, 520 e 521 do Banco Central inauguram uma fase mais estruturada para exchanges, plataformas de tokenização e empresas que oferecem serviços ligados ao universo cripto. 

O avanço regulatório coloca o país em um cenário mais alinhado a padrões internacionais e redefine as bases de atuação das empresas, trazendo mais segurança, governança e clareza jurídica para um mercado que cresceu rápido e agora precisa de estrutura compatível com o sistema financeiro tradicional.

Os últimos anos foram marcados por expansão, inovação e, ao mesmo tempo, episódios que chamaram a atenção para vulnerabilidades importantes. 

Segundo Aylton Gonçalves, o Banco Central passou a responder de forma mais firme a incidentes envolvendo prestadores de tecnologia, falhas de segurança e investigações como a Operação Carbono Oculto. 

Esse contexto acelerou a adoção de um arcabouço regulatório mais rigoroso, que passou a tratar o mercado cripto não como um espaço à parte, mas como uma extensão natural do sistema financeiro.

Para quem empreende no setor, o recado é claro. O crescimento agora depende de processos mais robustos, capital adequado e controles internos capazes de sustentar operações que envolvem movimentações sensíveis de recursos. Para o investidor, as regras representam um avanço na proteção do patrimônio e na transparência das operações.

No episódio 167 do Talkenização, Aylton Gonçalves explicou como esse movimento muda a dinâmica do setor e o que empresários e investidores precisam entender para navegar nesse novo ambiente. 

Competitividade, estabilidade e a mudança de postura do regulador

Durante muitos anos o Banco Central assumiu uma posição voltada a estimular a competitividade

A Resolução 80 permitiu, por exemplo, que empresas de pagamento operassem sem autorização imediata, incentivando a entrada de dezenas de fintechs no mercado. 

Esse ambiente ajudou a criar inovações que hoje fazem parte da rotina financeira do país. Porém, como destacou Aylton, essa fase começou a mudar quando o regulador encontrou um ponto de tensão entre abertura e estabilidade.

A partir de investigações, falhas operacionais e riscos observados no mercado, o Banco Central passou a priorizar um modelo focado em segurança e controle de riscos

O movimento inclui novas regras de capital mínimo, restrições ao uso de coworking, exigências mais rígidas de governança e limitações mais claras sobre o que caracteriza atuação no país. 

Esse realinhamento marca o que Aylton chama de nova política regulatória, em que a proteção ao sistema financeiro passa a ter peso equivalente ao incentivo à inovação. 

Essa combinação produz impactos diretos no setor cripto, especialmente para empresas menores que antes conseguiam operar com estruturas limitadas. 

Ao mesmo tempo, cria terreno fértil para players mais maduros e para investidores que desejam operar em um ambiente com menos incertezas.

As normas reforçam também a importância da coerência regulatória. O Banco Central passa a aplicar ao universo de ativos virtuais conceitos que já guiavam bancos, instituições de pagamento e corretoras tradicionais. 

Essa aproximação busca assegurar que atividades semelhantes tenham riscos monitorados de maneira equivalente, princípio presente em diretrizes internacionais como o MiCA europeu e as recomendações do FATF. 

O resultado é um ambiente com mais previsibilidade, ainda que mais exigente.

As três modalidades de prestação de serviço e o impacto da segregação patrimonial

O pacote regulatório estabelece três categorias centrais de atuação para as prestadoras de serviços de ativos virtuais. 

A intermediação engloba compra e venda de criptoativos, subscrição, administração de carteira e operações ligadas ao mercado de câmbio. 

A custódia se concentra na guarda de chaves privadas e na verificação de posições. Já a corretora é a PSAV que reúne as duas modalidades e funciona como uma exchange completa. 

Cada categoria exige capital próprio, controles internos e uma estrutura operacional adequada ao risco da atividade.

Entre os elementos mais sensíveis está a segregação patrimonial, um pedido antigo do mercado. A separação entre recursos da empresa e recursos dos clientes passa a ser obrigatória tanto em moeda fiduciária quanto em ativos virtuais. 

A norma permite exceções mínimas, mas reforça que o padrão esperado é a separação completa. Isso evita confusão patrimonial, reduz o risco de colapso em cascata e protege o investidor em caso de falhas operacionais ou problemas de solvência. 

Para empresas que não possuem autorização para emitir moeda eletrônica ou operar conta de depósito, esse processo exige parceria com instituições financeiras, ampliando custos e demanda por compliance.

O novo patamar de capital mínimo também afeta o setor. 

Aylton destaca que as exigências ficaram acima das propostas iniciais das consultas públicas, chegando a valores que podem ultrapassar dezenas de milhões de reais. Isso cria barreiras para novos entrantes, mas ao mesmo tempo reforça a solidez das empresas que optarem por permanecer. 

Para grandes instituições financeiras que já possuem licenças estabelecidas, adicionar serviços de ativos virtuais pode ser mais acessível. 

Para startups, o desafio é maior, exigindo decisões sobre mudança de tipo regulatório, fusões, captação de recursos ou até desligamento do mercado.

Câmbio, stablecoins e a adaptação das empresas ao novo cenário

Outro ponto que mexe diretamente com a operação do setor é a integração com o mercado de câmbio

Transações envolvendo stablecoins e ativos virtuais referenciados em moedas fiduciárias passam a ter tratamento equivalente ao de operações cambiais tradicionais. 

Isso exige reportes frequentes ao Banco Central, controles atualizados e conhecimento técnico sobre normas que, até então, não faziam parte da rotina da maioria das PSAVs. 

Aylton explica que empresas que já atuam com câmbio têm vantagem por já possuírem equipes estruturadas. Para PSAVs puras, a curva de aprendizado e os custos podem ser significativos.

A regulação das stablecoins também ganha relevância. O Banco Central deixa claro que instituições não podem atribuir a responsabilidade de risco ao emissor da moeda. 

Elas precisam realizar verificações, auditorias, controles e análises próprias. Isso cria incentivos para que empresas priorizem stablecoins com maior transparência e conformidade. 

Ao mesmo tempo, abre espaço para questionamentos sobre competitividade e inovação, já que padrões mais rígidos podem limitar a entrada de novos emissores.

Para as empresas que já operam no mercado cripto, o regulador definiu prazos amplos para adaptação. 

Há janelas distintas para quem já atua e para quem pretende iniciar operações, além de prazos específicos para implementação de requisitos como a travel rule, alinhada às recomendações internacionais de prevenção à lavagem de dinheiro. 

Esse cuidado evita rupturas abruptas e permite ajustes graduais de sistemas, estruturas societárias e modelos de negócio.

O futuro: integração, investidores mais protegidos e um mercado mais maduro

O novo marco regulatório pode produzir efeitos positivos para empresas, investidores e para o próprio ecossistema financeiro. 

Aylton aponta que o Brasil pode caminhar para um cenário de integração total entre finanças tradicionais e ativos virtuais, em que operações fluem com naturalidade por trás de interfaces simples. 

Esse avanço depende da capacidade do mercado de se adaptar, de inovar mesmo em um ambiente mais regulado e de construir soluções que combinem usabilidade com segurança.

Para o investidor, as regras trazem maior proteção. A segregação patrimonial reduz riscos de perdas inesperadas. 

A exigência de capital mínimo reforça a solvência das empresas. A supervisão do Banco Central cria uma camada adicional de confiança. Embora modelos inovadores possam enfrentar restrições, o ambiente tende a se tornar mais estável e acessível a investidores institucionais e a empresas que buscam operar com seriedade.

A regulação reconhece a importância dos ativos virtuais e demonstra que o mercado não é mais um fenômeno periférico. 

Ele passa a fazer parte da estrutura oficial do sistema financeiro brasileiro, com exigências proporcionais aos riscos e às oportunidades que carrega. 

O desafio agora é evoluir sem perder a capacidade de criar soluções transformadoras, mantendo o equilíbrio entre proteção e liberdade. 

Para empresários e investidores, entender esse novo ciclo é essencial para aproveitar o momento em que a inovação e a conformidade caminham juntas em direção ao próximo estágio do setor.

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